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  • Foto do escritorDr. Valber D. Pinto

Covid: quando a mente pede a conta e o vírus é implacável em cobrá-la.

Confira esse artigo de minha autoria publicado no site de A Gazeta em 04/05/2021. Foto premiada no CBP de 2019, "Setembro Amarelo", fotógrafo: @valber.pinto.


O coronavírus (COVID-19), identificado na China no final de 2019, possui um alto potencial de contágio, e sua incidência aumentou exponencialmente ao longo dos meses seguintes. Sua transmissão generalizada foi reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma pandemia em 11 de março de 2020. Até meados de abril a COVID-19 resultou em mais de 120 milhões de casos e 2,6 milhões de mortes.

Desde então um novo modo de viver passou a ser comum em todo o mundo. Com ele houve um aumento da exposição à estressores, associados à uma variedade de fatores como: o medo da doença em si, sentimentos de frustração pelos planos cancelados, tédio pelo isolamento social, insegurança financeira e até mesmo insegurança quanto à qualidade das informações recebidas. Não bastasse isso temos ainda o impacto de milhares de processos de luto seguindo um rumo mal resolvido, muitos sem sequer conseguir ver pela última vez seu ente querido. De outro lado a impossibilidade de vivenciar fatores aliviadores como habitualmente poderíamos fazer, como momentos de lazer, atividades físicas coletivas e reuniões sociais tornou tudo mais pesado, muitos procurando alívio em caminhos perigosos como álcool e descontrole alimentar.

Com a balança tendendo claramente para o lado da exaustão emocional ficou complicado experimentar prazer e satisfação, seja nas atividades laborais, acadêmicas ou sociais. Muitos já não se reconhecem, percebendo claramente que esse estresse crônico não tem passado em branco. A ansiedade é uma emoção natural, sempre ativada quando precisamos nos adaptar à algum evento, bom ou mau que altere nossa rotina. Contudo essa capacidade de se adaptar tem limites, e se ele é ultrapassado o enfrentamento dessas situações fica prejudicado. Já nesse momento alguns sinais de que há algo errado podem aparecer: irritabilidade, alterações no sono, piora ou aparecimento de quadros como úlceras, gengivites, psoríase, hipertensão arterial e disfunções sexuais, dentre outros.


Nessa hora entrar em contato com o problema que está ocorrendo, buscando ser racional e resolutivo pode ajudar em muito, mas para isso não conte com o vírus, ele é implacável! Além de provocar sintomas respiratórios e gastrointestinais está claro hoje que o SARS-CoV-2 (vírus que causa a COVID-19) é capaz de causar muito mais que a perda de olfato no sistema nervoso. Existem sintomas neuro-psiquiátricos provocados pela doença a curto e a longo prazo, promovendo sequelas que podem durar por meses, mesmo em adultos jovens, não relacionadas com o grau de acometimento pulmonar que o paciente apresentou. Tudo isso sugere que o envolvimento cerebral persiste mesmo ao final do quadro agudo da COVID-19. São particularmente prejudicadas a atenção e a memória, vitais para que seja elaborada uma reposta adequada nesse momento.


A explicação para esse impacto tem relação com as modificações provocadas pelo quadro inflamatório no sistema nervoso central, com alterações nos níveis de vários neurotransmissores, levando também a piora de quadros de ansiedade e depressão pré-existentes ou aparecimento de novos quadros. Certamente isso irá impactar nos índices de suicídio, como alguns estudos já demonstram, uma vez que este é o desfecho comum de vários processos de adoecimento mental, mas também está relacionado à diminuição do repertório cognitivo do indivíduo. Permanecer atentos a esses sintomas e procurar logo uma reabilitação funcional pode diminuir a carga da doença ao longo dos anos e seus impactos na sociedade.




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